Bullying e suicídio III
Como resultado desta revisão de literatura, os achados deste estudo evidenciaram relação entre bullying e ideação suicida e/ou suicídio. Quanto aos desenhos metodológicos, a maioria dos estudos (80%) foi do tipo transversal; seguido de estudos de coorte (20%) . Todos utilizaram amostras de adolescentes e jovens, com idades variando entre 13 a 24 anos. Em termos de ano de publicação, dois dos estudos foram realizados no ano de 2016. Entre os continentes de realização das pesquisas que originaram os artigos, predominou a América Latina com 3 artigos. Não foram encontradas publicações de origem brasileira. Cabe destacar que alguns estudos desta pesquisa têm apontado que ser vítima de bullying é um considerável fator de risco para o suicídio.

O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão integrativa de literatura
de artigos científicos sobre a associação entre bullying escolar e suicídio.
Alguns autores verificaram que a vitimização por bullying foi associada
a maiores probabilidades de consumo atual de tabaco;
absenteísmo; luta física e
relações sexuais desprotegidas. Os resultados deste
estudo sugerem ainda que adolescentes vítimas de bullying, além de
apresentarem maiores chances de ideação e comportamento suicida, estão mais
propensas a terem outros comportamentos que são potencialmente prejudiciais
à saúde, como uso de tabaco e relação sexual desprotegida.
Crianças e adolescentes que sofrem bullying podem ser afetados por
diversos problemas de saúde, incluindo sintomas de doenças físicas e
psicológicas. Em consequência das agressões
sistemáticas sofridas, podem manifestar dores de cabeça, dores abdominais,
insônia, enurese noturna, depressão, ansiedade, faltar à escola, diminuição da
performance acadêmica, agressão a si próprio, pensamentos e tentativas de
suicídio. Consequências que vão desde questões físicas,
como também problemas de comportamentos internalizantes, como por
exemplo: ansiedade, depressão, retraimento e medo.
Em outro estudo verificou-se que processos de vitimização por bullying
em grupo de adolescentes foram associados significativamente para a presença
de ideias e pensamentos suicidas aumentando o risco de apresentá-los seis
vezes mais.
Um estudo na Pensilvânia confirmou associação entre bullying verbal,
físico e cyberbullying com o risco de suicídio, no entanto, o bullying verbal foi
associado exclusivamente com a tentativa de suicídio.

Tais autores, atestam para a severidade do bullying verbal no que se refere à
tentativa de suicídio. Ratifica-se que existem diversos fatores predisponentes
para o suicídio na infância e adolescência, segundo Sousa et al. (2017),
concluíram por meio de uma revisão sistemática, que problemas escolares como
o bullying e o rendimento escolar ruim, são considerados propensos para o
suicídio na adolescência.
Outro ponto destacado neste estudo é que adolescentes envolvidos em bullying
apresentaram maior prevalência de automutilação e comportamento suicida em
comparação com adolescentes não envolvidos (FORD et al., 2017). Em estudo
empreendido por Guerreiro (2014) verificou que ser vítima de bullying é fator
preditor de autolesão no sexo masculino. Nesta direção, estudos de Nylund et
al. (2007) demonstram uma associação entre bullying e tristeza, desesperança,
solidão, depressão, ansiedade, insônia e pensamentos suicidas.
Deste modo, estabelecendo uma comparação com adolescentes
envolvidos ou não com o bullying, infere-se que tal fenômeno poderá torna-se
um fator de risco para o desenvolvimento de ideação e/ou comportamentos
suicidas. Sobre este fato, Rivers e Noret (2013) concluíram em seu estudo que
os estudantes que testemunharam o comportamento de bullying no ambiente
escolar foram significativamente mais propensos do que aqueles não envolvidos
no bullying para relatar sintomas de sensibilidade interpessoal, indicar
desamparo e possível ideação suicida.
Igualmente a estes dados, em uma pesquisa realizada no Reino Unido
sugeriu que os estudantes que testemunharam o bullying poderiam apresentar
consequências negativas, podendo manifestar aumento no consumo de álcool,
depressão, ansiedade, além de pensamentos suicidas (RIVERS; POTEAT, et
al., 2009). Outro estudo evidenciou que estudantes que possuem vários papéis
no bullying apresentam mais probabilidades de relatar pensamentos suicidas do
que aqueles que são apenas vítimas, agressores, espectadores ou aqueles que
não estão envolvidos no comportamento de bullying (RIVERS; NORET, 2010).
Percebe-se, assim, que tanto pessoas envolvidas diretamente no bullying
(agressores e vítimas), como as testemunhas podem apresentar futuramente
problemas de ordem psicológica, emocional, social.
Outro ponto a ser destacado refere-se ao gênero, Gould et al. (1996)
afirmam que em relação ao gênero, agressores e vítimas do sexo masculino são mais propensos a terem comportamentos suicidas do que aqueles que nunca
estiveram envolvidos em bullying e as meninas que são vítimas de intimidações
frequentemente são mais susceptíveis a efetuar o suicídio.
Analisando isoladamente o bullying e o suicídio, verifica-se que pessoas
do sexo masculino se envolvem com mais frequência em episódios de bullying
comparado ao sexo feminino (MOURA, et al., 2011; RECH et al., 2013). Em
relação ao suicídio, estudos revelam que os homens normalmente cometem
mais suicídio, embora as mulheres tentem mais vezes do que os homens (VIDAL
et al., 2013; REISDORFER et al., 2015).
Em estudo realizado por Sandoval-Ato et al. (2018) com escolares,
verificou-se que dos 289 escolares, 20% apresentaram risco suicida e algum tipo
de depressão. Daqueles que estavam no topo da escala de bullying, 38% tiveram
ideação suicida; por outro lado, daqueles que estavam deprimidos, 63% tinham
ideação suicida.
Verificou-se aumento da frequência de risco de suicídio com pontuação
no terço superior para bullying (RPa: 1,83, IC 95%: 1,13-2,99, valor de p = 0,015),
sendo deprimido (RPa: 3,32, IC 95%: 1,69-6,51; valor de p <0,001), a história
familiar de suicídio (RPa: 1,99, IC 95%: 1,55-2,56; p <0,001), o desejo passivo
de morrer (RPa: 2,20, IC 95%: 1,86-2,61, valor p <0,001), o planejou em algum
momento o suicídio (RPa: 2,05, 95% IC: 1,60-2,64, valor p <0,001).
Corroborando com o estudo anteriormente citado, alguns estudos têm apontado
que existe uma associação entre bullying, tristeza, depressão e pensamentos
suicidas (CARLYLE et al., 2007; KLOMEK et al., 2007).
Em síntese, observava-se que o bullying impacta na saúde mental dos
diferentes adolescentes presentes na escola, possuindo relação com a ideação
suicida e ou suicídio. Os achados científicos desta revisão integrativa de
literatura constituem-se aporte para o entendimento sobre a associação entre
bullying e suicídio, o que poderá suscitar implicações nos diversos atores, seja
da área da saúde, educação ou assistência social, no que se refere a propor
ferramentas que sejam capazes de colaborar na formação e saúde mental de
crianças e adolescentes.
Em relação a formação e saúde mental de crianças e adolescentes, a
inserção do psicólogo no ambiente escolar, torna-se um importante elemento, na
mediação de conflitos, propondo momentos de diálogo e escuta na escola, visto que poderá contribuir com uma aprendizagem direcionada na reorientação das
relações sociais, trabalhando aspectos tais como: cooperação, solidariedade,
tolerância e respeito às diferenças individuais (FREIRE; AIRES, 2012; RAAB;
DIAS, 2015). Além disso, o psicólogo poderá contribuir, nas atividades que
possam auxiliar no desenvolvimento de fatores de proteção, dirigindo-se
principalmente, para questões de resiliência que possam colaborar para o
enfrentamento de situações prejudiciais, como por exemplo o bullying (GUZZO,
2011).

À vista disso, neste cenário, é indispensável que a abordagem do bullying
seja priorizada na América Latina, sendo necessária um enfoque que inclua a
promoção da saúde mental e física (ROMO et al., 2016). Cabe destacar, além
disso, a importância da implementação de programas para identificar
adolescentes de alto risco, como vítimas de intimidação sistemática e baseada
em evidências a realização de intervenções, para reduzir o bullying nas escolas
(FORD et al., 2017). Por fim, sugere-se a necessidade impreterível de aprofundar
o estudo sobre o tema (VALADEZ et al., 2011).